quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Sobre profissões, ser mulher e escolhas

Quando era pequena, sempre dizia que queria ser arqueóloga ou astrônoma. Achava o máximo a ideia de viajar bastante e poder encontrar resquícios de vidas passadas ou poder estudar o céu e as estrelas e ver que não estamos sozinh@s por aqui. Não me recordo quem ou que me fez despertar este interesse por estas profissões tão incomuns, porém consigo lembrar os motivos que me fizeram desistir.

Eu sou a filha do meio. Tenho uma irmã mais velha e um irmão mais novo. Nós, as meninas, éramos acordadas gentilmente, às 8h da manhã, com salpicadas de água em nossos rostos, para que pudéssemos ajudar a nossa mãe nas tarefas do lar, enquanto meu irmão podia continuar com o sono dos justos. Dos três aos sete anos, mais ou menos, fiz natação. Fui a menina mais jovem da academia a ser medalhista nas quatro modalidades, aos sete anos de idade. Mas por ser uma mocinha, quando crescesse me disseram que ficaria feia com os ombros largos e por isso me convenceram a desistir. Aos oito anos, creio eu, entrei no ballet. Porém não me enquadrava nos padrões daquelas meninas esguias. Sempre fui baixinha e pernuda. Saí.

Passei a infância e a adolescência brigando com os padrões e tentando fugir deles, ao passo que escutava de muitos: "Não pode ser! Você nasceu errada!". Era uma exímia jogadora de handball e basquete do time da escola, apesar da minha baixa estatura. No portão de casa, os garotos gritavam: "Euler! Vem jogar bola!", para o desespero dos meus pais. Aos 13 ou 14, época em que os meninos passaram a me despertar outros interesses, além de brincadeiras de "mão", piadinhas e conversas sem sentindo, as quais adorava fazer parte, tentei me enquadrar nos padrões da época: tênis Keds, cabelo chanel com franja de Mc Donald's, legging e mochila de bichinho. Resultado: um fiasco! Gostava mesmo era de usar mini blusas ou camisetas e pegar as bermudas e calças do meu pai para que parecessem "big". Era mais feliz assim.


Nas conversas que tinha com a minha irmã, porém, eu me espelhava nas estereotipadas propagandas de margarina e dizia que queria ter uma família daquele jeito: papai, mamãe e filhinha. Afinal, era o único modelo que conhecia. Já minha irmã dizia que se pudesse ter um filho por geração espontânea, preferiria. Hoje a vida tratou de inverter tudo; eu cuido de minha filha "sozinha" e minha irmã tem a família dela. Longe, ambas, de ser uma "Doriana" da vida (ainda bem!).

Já quis também ser jogadora de basquete profissional, pianista, jornalista, atriz... Mas para cada desejo meu, surgia alguém para me dizer que isso não era coisa de menina. Meus pais me incentivavam do jeito deles e não os culpo por passarem a vida tentando que eu me enquadrasse para que eu não sofresse. Hoje olho para minha filha e desejo que ela busque os caminhos dela, com ou sem dor, tendo a certeza de que ela poderá contar comigo independente da escolha que fizer.

Sou fotógrafa, trabalho com gente, nas redes ou pessoalmente, e extremamente grata pelos caminhos tortos que trilhei.

Ainda há gente que não compreende, olha de canto, tenta me "consertar", mas desde muito menina aprendi a brigar pelo que acredito e mantenho o terrível defeito de ser questionadora e sonhadora.

Por favor, não me acordem!

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