quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Coragem

Na porta do fórum eu chorei.

Difícil encerrar um ciclo intenso de negação.

A sensação de abandono é constante e intensa. A solidão materna segue seu curso.

Um novo ciclo de autoafirmação e e aceitação se inicia.

Dias difíceis pela frete.


quarta-feira, 8 de julho de 2015

Sua Vaca!


Trabalho num Centro de Defesa da Mulher. Sou educadora e lido com mulheres vítimas de violência doméstica todo o santo dia.
Hoje ao chegar na ONG havia, como sempre, um carro parado em frente à nossa garagem. Toda vez ligamos para a CET e nada é feito. Resolvi anotar a placa para entrar em contato com eles munida de mais informações para, quem sabe, eles virem dessa vez.
Do outro lado da rua ouço gritos de um homem cis e branco, nosso vizinho da frente, e então o fatídico xingamento: "VACA"!
Imagino que pra ele não passe de um xingamento, afinal quem não xinga? Principalmente de “vaca” e toda sua lista de sinônimos? Imagino que, talvez, ele faça isso mais vezes ao dia e que, neste momento, ele já até tenha se esquecido do que fez. Será que se ele soubesse a dor e a humilhação que é ao ouvir esse tipo de coisa, continuaria a falar dessa maneira com as mulheres?
Espero, sinceramente, que não.
Difícil essa chaga de habitar esse nosso corpo de mulher que, apesar de tudo, ainda sou privilegiada por ser branca, cis e heterossexual. Não foi a primeira vez que ouvi isso, claro, afinal já são 32 anos de suor na testa.
Todo dia saio de casa refletindo sobre esses privilégios, fazendo esforço para problematizar minhas falas e meus atos para tentar, se não eliminá-los, reduzi-los e não subjugar ou humilhar ninguém.
Haja luta para tanto machismo!
Haja disposição para tanta desconstrução!
Haja mulher para tanto patriarcado!

Meu 7x1 de hoje.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Véspera

V
E
S
P
E
R
A

Muito antes de ser, era.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

32


Perto dos 32, me vejo na velha e conhecida montanha russa emocional. Angustiante me deparar com sonhos não concretizados, objetivos não alcançados e planos adiados por conta das más escolhas que fiz ao longo da vida.

O fantasma do "se" me persegue incansavelmente e, de forma implacável, ele puxa meu pé a todo momento em que me sinto frágil, menor.

A culpa, essa jovem que parece não envelhecer jamais, corre feito maratonista para me assombrar e apontar o dedo na minha cara: "não te avisei?".

Minha trajetória até aqui é cheia de altos e baixos, assim como a de muit@s ou a de tod@s. No alto do meu privilégio branco, cis e hétero (?), deveria mais agradecer do que lamentar. Mas esse desabafo não é sobre feminismo. Esse, não. Hoje quero me permitir sentir minha dor. Chorar, quando me mandam engolir. Gritar, quando me mandam calar. Sofrer, quando me mandam sorrir.

Fico nesse paradoxo constante entre querer ser "mulher maravilha" ou ser "apenas" mulher. Um desejo insano de querer passar ilesa aos traumas, às chagas ou aceitar humildemente minha humanidade. Em ter a valentia de vociferar ou a sabedoria de me silenciar. Bater ou equilibrar. Congelar ou amar.

Aos olhos do outro parece uma escolha óbvia e fácil. Peço, encarecidamente, que não diminua minha angústia. Imploro por empatia num sorriso ou abraço sinceros ou um silêncio de quem não sabe o que dizer. Palavras amigas e amor gratuito.


Que nos próximos dias eu sobreviva, sendo "super" ou não, pra poder colocar mais linhas nessa história.